Devido ao agravamento da pandemia foi necessário voltar ao confinamento, quase um ano depois da primeira experiência. Também na Marinha Grande esta é uma situação que está a condicionar, de novo, o dia-a-dia de todos, como apurou o JMG na rua, onde foi possível ouvir a opinião de alguns transeuntes


“É bom e é mau. É bom para evitar o contágio e é mau porque não temos dinheiro”. Natural de Évora e a viver na Boavista de Leiria, encontrámos na manhã da passada sexta feira, 5 de fevereiro, na Marinha Grande, Domingos Manuel, de 55 anos, a afiar uma faca com uma pequena mó na bicicleta, no passeio da Avenida José Gregório, junto ao Intermarché. “Sou amolador”. Domingos disse ao JMG que afia facas, tesouras e repara chapéus de chuva. “Tenho que trabalhar, às vezes não tenho vontade de sair de casa, mas o dinheiro não dá para tudo”. Calmo, acessível e assertivo a responder, o “amolador” avisou que o estômago não pode esperar pelo fim da pandemia.

“Não votei porque eles não merecem”. No dia anterior e no mesmo local, Fernando Rodrigues, de 70 anos, reformado, a viver nas Trutas, disse que “para mim é igual. Não saio de casa, não altero a rotina, mas condeno quem não respeita as regras”. Muito crítico em relação aos políticos, o marinhense lembrou que “as festas de passagem de ano e Natal é que minaram isto. Os políticos são os maiores responsáveis. Moro na Rua Principal, 42, nas Trutas, que ainda não tem saneamento básico”, desabafou o reformado.

Já no centro da Marinha Grande, Carlos Roldão, de 70 anos, aposentado, natural da cidade vidreira, disse ao nosso jornal que “estou a aceitar as regras. Não sei, há prevenção, mas não é suficiente…”, avisou. Ali perto, nas imediações do Parque Mártires do Colonialismo, a passear o pequeno cão, Margouya Becker, de 59 anos, natural da Rússia, a viver na Marinha, sobre a pandemia afirmou que: “é do clima, o coronavírus é uma gripe sazonal, e pouco mais. Em Portugal há muitas pessoas com doença crónica, e pessoas velhas”. Indignada com as regras do confinamento, e sobre os governantes em geral, a gesticular, a mulher russa acusou-os de desprezarem as pessoas. “Tratam-nos como pulgas e insetos”, atirou.

Num início de fevereiro marcado pelo tempo cinzento e chuva miudinha, o anúncio do ensino online, já iniciado na passada segunda feira, o número diário de mortos por COVID-19 no país chegou a ultrapassar as três centenas, o trânsito no centro em hora de ponta era quase inexistente, aqui e ali avistavam-se pessoas sem máscara, os parques verdes da cidade, com pouca afluência, e num dos supermercados da cidade, a fila para comprar o jornal ou o jogo na papelaria ultrapassava as duas dezenas.

No balcão da cafetaria e padaria, quase não existia gente a comprar comer e não é agora permitida a venda de bebidas e café devido ao confinamento, já anunciado a meados de janeiro, com um horizonte mínimo de um mês e avaliado pelo Governo a cada 15 dias.

 

Pedro Carvalheiro