“A História do Coronavírus” é como se intitula a banda desenhada da autoria de Francisco Rocha, de 13 anos. Com o apoio da Junta de Freguesia da Marinha Grande, as ilustrações que criou durante o primeiro confinamento estão agora imortalizadas num livro

 

Melhorar a caligrafia do Francisco era o objetivo que a mãe, Isabel Veiga, queria alcançar, quando em abril do ano passado, e perante o período de férias da Páscoa, em confinamento, lhe pediu que fizesse uma banda desenhada, atividade de que ele tanto gostava. Na altura, Francisco, que tem espectro do autismo, tinha 12 anos e desde pequeno que elege o desenho como forma de expressão. O desafio lançado pela mãe foi assim aceite e três dias bastaram para que o 1.º capítulo ficasse concluído.

A banda desenhada conta a história do coronavírus, a forma como a família de Francisco viveu o dia a dia, e a sua visão a respeito das notícias que via nos jornais e na televisão. “Ele tem um episódio sobre o que aconteceu com o George Floyd que foi morto por um polícia nos Estados Unidos. Quanto ele contou que ia colocar aquilo na banda desenhada, o pai disse que não mas eu disse para colocar até porque a nós, como família multicultural, é um tema que nos diz bastante”, explicou a mãe ao JMG.

“Orgulhosa”, Isabel Veiga realçou o contributo de São Cunha, professora do ensino especial, assim que viu o trabalho do Francisco. “Achei que estava lá representado muito do que ele é e das capacidades que tem, e que muitas vezes não são reconhecidas. Ele tem características muito específicas e considerei que este trabalho não devia ficar apenas na caixa de memórias da família”. Estimulado por São Cunha, Francisco participou num concurso de âmbito nacional que lhe deu a motivação necessária para escrever mais três capítulos. Segundo a professora, “a grande barreira do Francisco é a interação com o outro, mas isso não significa que ele não socializa. Ele cria uma grande empatia com todos e quando comunica é muito sucinto”.

A edição da obra foi custeada pela Junta de Freguesia da Marinha Grande, após os contactos estabelecidos pela professora. “Fiquei encantada como é que uma criança podia ter esta capacidade e através do nosso Gabinete de Apoio Psicossocial tratámos da edição do livro, disse ao JMG Isabel Freitas, acrescentando que além da limpeza de ruas e desentupimento de ruas, as Juntas “devem estar ao serviço da cultura”. “A Junta de Freguesia está ao serviço da população, também na cultura e de tudo aquilo que o ser humano necessita para ser feliz, para se desenvolver”, afirmou a presidente, segundo a qual a obra será agora distribuída pelas Bibliotecas Escolares do Concelho.

Interessado em Informática e Inglês, Francisco Rocha, aluno do 7.º ano na Escola Guilherme Stephens, ficou “muito contente” com a edição do livro e não esconde a satisfação por verificar que “a minha popularidade cresceu”. Em entrevista ao JMG agradeceu o empenho da professora São, mostrou-se entusiasmado por “poder dar autógrafos”, e garantiu que a história “terá continuidade”. Só lhe falta decidir o que desenhar no capítulo 5…

(Assista à reportagem em vídeo em marinhatv.com)