Gilberto Reis, mais conhecido como Gil, desde cedo desenvolveu o gosto pela música, tendo sido fundador de diversos grupos. Dos acordes passou às letras e possui hoje um vasto leque de temas originais. O JMG esteve à conversa com o músico, para conhecer um pouco do seu percurso, em particular o projeto Gil Ensemble que levou recentemente ao palco do Auditório José Vareda, no Sport Operário Marinhense

Ficha técnica

Nome: Gilberto Reis 

Naturalidade: Marinha Grande

Profissão: Em pré-aposentação

Viagem de sonho: Route 66 de mota

Artista internacional preferido: The Queen

Artista nacional preferido: Rui Veloso

Instrumento predileto: Guitarra acústica

Viver sem música seria… como olhar o leito dum rio seco onde seria um peixe sem água

Se não tivesse enveredado pela música… seria, porventura, um ativista. Um defensor de causas.

Como surgiu o seu gosto pela música e pelas letras?

O gosto pela música não foi simultâneo com as letras. A música surgiu ouvindo alguns programas de rádio, que nos anos 70, com os meus 10 anos, eram o único meio para se ouvirem as novidades. Nessa altura, os sons que me transmitiam emoções, iam fabricando o meu gosto pela música fazendo-me querer tocar um instrumento. O mais acessível, na altura, era, e ainda é, a guitarra acústica. O meu interesse pela guitarra foi tal, que os meus pais me ofereceram uma aos 12 anos. Nessa altura, os meios de aprendizagem não eram o que são hoje, pelo que se recorria a ver os músicos na televisão, nos arraiais, nos bailes ou alguém próximo ou vizinho. Os primeiros acordes que aprendi foi com o grande senhor Carlos Nogueira – hoje um grande viola de fado. As letras/poemas surgem mais tarde. Como todos, comecei por tocar a música dos outros. Cerca dos 18 anos senti o apelo pela criação, o que me encaminhou a escrever poemas, coincidindo com a formação da minha primeira banda de originais – “Os Banda de Lá” (Vítor Gomes, Carlos Lopes e Tozé).

Onde vai buscar inspiração para escrever e quais são os seus temas favoritos?

A inspiração não tem explicação definida. Normalmente está associada a vários fatores – ao contexto social, às circunstâncias da vida pessoal, ao ambiente do registo musical e outros que direta ou indiretamente a influenciam. Umas vezes os poemas inspiram a música e outras é a música que inspira os poemas. Os temas favoritos que me têm inspirado são a sociedade e as vivências relacionais.

Como descreve o projeto “Gil Ensemble”?

Este projeto vem em sequência do lançamento do meu livro “28 Poemas Musicados e Explicados”, em agosto de 2021. Nas várias sessões de apresentação, os poemas, além de declamados, foram cantados e tocados ao vivo por mim só ou acompanhado pelo grande Don Aires Pereira no contrabaixo e pelo não menos grande Paulo Caetano no cajon. Assim, as músicas, anteriormente, compostas, apenas, com a minha guitarra acústica ficaram com outro corpo, o que ao serem ouvidas pelos Ensemble (Carlos Saldanha, João Garcia e Ricardo Matos) lhes suscitou haver nelas conteúdo com potencial. Se as minhas simples músicas, hoje, são obras musicais, aos Ensemble agradeço.

Dia 24 de junho, sobem ao palco do Auditório José Vareda. O que pode esperar o público deste concerto?

Uma viagem musical através das emoções contidas nos poemas.

Que opinião tem a respeito do panorama musical na Marinha Grande?

O panorama musical da Marinha Grande é o panorama musical do país caracterizado pelo fraco respeito dos valores da nossa cultura e identidade onde parceiros como meios áudio visuais, comunicação social e afins não ajudam pois dão mais ênfase às culturas estrangeiras do que às nacionais.

A classe musical mais unida poderia contrariar esta efetiva tendência, assim como os pequenos e grandes eventos da cidade, normalmente, esquecem os músicos locais tirando-lhes muito incentivo e desincentiva o surgimento de mais valores. Só a quantidade pode dar azo à qualidade.

Considera que os músicos locais são valorizados? Porquê?

Não considero. Pelas razões já referidas.

É um dos membros fundadores do Clube dos Músicos da Marinha Grande. Como tem sido esta ‘viagem’?

Árdua! Um dos fundamentos do Clube dos Músicos é que os músicos sintam que esta é a sua casa, onde partilhem experiências, conhecimentos, visões e potenciar a sua vontade de criar. A criação é a imortalidade do criador. Será preferível mostrar algo de seu a uma plateia pequena do que mostrar algo, não sendo seu, mesmo de qualidade a uma plateia grande. Só quem já sentiu a emoção de ouvir apenas uma pessoa na plateia a cantar e aplaudir uma obra sua saberá dar o valor. É árdua porquê? Porque ao fim de 10 anos de existência do Clube dos Músicos nem a vontade de criar cresceu, nem a vontade de os músicos se sentirem em casa se generalizou. Sinto alguma frustração pelo objetivo inacabado.

Aos 60 anos, o que lhe falta ainda fazer no mundo da música?

Nada me falta e tudo me falta. A lista de coisas para fazer na música, estará sempre incompleta!...