Penso ser hoje aceite pela generalidade dos portugueses, como pelos gregos ou espanhóis, que o endividamento excessivo dos países foi um erro político grave que os cidadãos destes países estão agora a ter de pagar, sendo que a maioria pouco ou nada contribuiu para esse endividamento. Mais grave, sabemos hoje que uma parte relevante desse endividamento foi consumida por sectores corruptos da sociedade em seu próprio benefício, através da especulação imobiliária, das parcerias e dos apoios do Estado a negócios privados, muitos deles de puro saque de recursos que eram de todos os cidadãos.

O caso grego é particularmente escabroso, já que os dois principais partidos políticos gregos, que durante muitos anos alternaram no poder, foram centros de corrupção em larga escala de duas famílias, no mais puro estilo das máfias italianas. Na Grécia, durante muitos anos, o poder político era conquistado e mantido com o objectivo único do enriquecimento crescente dos seus dirigentes e dos sectores mais influentes da sociedade grega. Em Espanha, as recentes prisões e os inúmeros processos em curso, revelam também uma situação em tudo semelhante, de saque dos recursos públicos para os bolsos de uma elite política corrupta.

Portugal não foi excepção neste panorama e os políticos no poder contribuíram de forma continuada e consistente para o saque dos recursos nacionais. Contribuição do poder político que podemos dividir em duas categorias: primeiro, os políticos que enriqueceram sem causa aparente, directa e indirectamente, através dos recursos do Estado e da economia, a que, por força das suas funções, tiveram acesso; e, segundo, aqueles que ficaram à porta, a assistir passivamente ao processo e sem mexer uma palha, mas permitindo a criação de leis e de regras que facilitaram a corrupção.

Por exemplo, teria sido fácil aos governos aplicar um imposto elevado sobre as mais valias resultantes dos terrenos para construção, o que teria impedido a criação de enormes fortunas de promotores imobiliários e de autarcas, mas não o fizeram e a pergunta óbvia é porquê? Também teria sido fácil aos responsáveis políticos em posição de poder e de visibilidade pública, terem questionado as parcerias público privadas, os ajustes directos de contractos feitos pelo Estado, a não concretização das contrapartidas resultantes das compras de equipamentos militares, ou simplesmente a intervenção excessiva de alguns poderes económicos na área política, como foi o caso de Ricardo Salgado, a que chamaram o DDT- “dono disto tudo”, mas sem retirar daí quaisquer conclusões, mesmo perante as notícias publicadas que davam nota de muitas situações existentes, no mínimo, pouco claras.

Este ano vai haver eleições legislativas e no início do próximo ano a eleição de um novo Presidente da República. É o tempo certo dos portugueses usarem o seu voto para limpar a casa, não permitindo que os mesmos interesses, as mesmas formas de corrupção utilizadas no passado recente continuem, mesmo que através de outras caras, ou de promessas que todos temos a obrigação de saber quanto valem.
Neste contexto, não tenho dúvida de que o melhor caminho aberto aos portugueses para acabar com os interesses ilegítimos de alguns à custa do interesse geral e do bem público, é unir forças aos que no passado se bateram contra a corrupção, contra a promiscuidade entre o poder político e os negócios e defenderam em todas as circunstâncias a transparência e a ética política. A que se somam aqueles, infelizmente não foram muitos, que denunciaram o endividamento excessivo e os erros de política económica cometidos pelos governos.