O futuro da economia mundial, europeia e portuguesa é neste momento um enorme buraco negro. O que não quer dizer que não possamos ter uma ideia aproximada do que acontecerá com base na experiência e em alguma capacidade de previsão

 

 

Por exemplo, sabemos que a economia portuguesa será uma das mais vulneráveis por ter uma grande dívida do Estado, maioritariamente externa, e por sermos uma pequena economia aberta muito dependente do exterior, quer para a aquisição de bens, quer para as exportações, quer do sistema financeiro internacional.

Sabemos que quando acabar a presente pandemia as empresas e o Estado estarão muito mais endividados, dependendo do tempo que medeia daqui até ao fim da crise, em que os países que lidaram, ou estão a lidar, melhor com a crise, recuperarão primeiro. Países como a China, Coreia do Sul, Taiwan, Singapura, República Checa e Áustria, terão uma vantagem competitiva, porque se poderão adaptar antes dos outros às novas condições resultantes do fim da pandemia.

Acontece ainda que o nosso sistema financeiro já só é metadeportuguês, já teve melhores dias e é previsível que tenha maiores dificuldades de acesso ao crédito internacional, o que em grande parte depende do Banco Central Europeu e da maior ou menor solidariedade da União Europeia.

Devido à falta dos materiais necessários ao nosso sistema de saúde, o Governo decidiu fazer menos testes e alongar durante mais tempo a inevitabilidade do crescimento dos casos de infecção, o que alongará também o fim da crise, ainda que na Europa muitos outros países estejam nas mesmas condições. Ou seja, em termos de mercados para vender os nossos produtos, os mercados orientais abrirão mais cedo mas, infelizmente, as nossas exportações são dirigidas principalmente para a União Europeia.

Para a nossa economia marinhense, quase tudo depende da evolução do mercado automóvel e não estou muito optimista de que o sector recupere rapidamente e há várias razões para isso: o endividamento das famílias e das empresas, criado à conta da pandemia, reduzirá a disponibilidade para comprar um novo carro e será difícil continuar a travar a importação de automóveis vindos do Oriente. Apenas a opção pela electrificação pode animar um pouco o sector, nomeadamente se existir substancial apoio dos Estados.

As empresas de moldes e de plásticos poderão iniciar desde já um esforço de diversificação, aproveitando o previsível aparecimento de novos produtos, nomeadamente no sector da saúde e do desejo dos países europeus e americanos de reduzirem a sua dependência dos fornecimentos chineses.

Parar completamente as empresas do concelho não é uma boa solução enquanto existirem encomendas para produzir e logo que possível os comerciais das empresas marinhenses podem ser dos primeiros a viajarem busca de encomendas. O facto de Portugal ter relativamente baixos níveis de doentes e de mortes devido ao Covid-19, representará, a manter-se, um argumento favorável. Claro que nos sectores de componentes isso não será tão óbvio na medida em que os clientes são empresas gigantes e não sabemos aindao que vão fazer depois de a pandemia acabar.

O tempo disponível resultanteda paragem da produção pode ser aproveitadopara a formação dos técnicos e dos trabalhadores, o que representará uma mais-valia para o futuro, sabendo-se que ainda não temos, na generalidade, o mesmo nível de competências que existem nos países do Norte da Europa, nomeadamente da Alemanha.


Como defendi no recente Congresso, a maquinação de alta precisãoe a qualidade dos acabamentos, que evite operações manuais dispensáveisno fabrico das cavidades e das buchas, é essencial, de forma a permitir a sua intermutabilidade, que permita aos clientes encomendar peças de substituição. Esta é uma evolução previsível do sector, em que as empresas de moldes da Marinha Grande não se poderão permitir não estar na linha da frente.

Em resumo, a presente pandemia trará consigo, inevitavelmente, grandes problemas económicos em todos os países europeus e Portugal será um dos mais penalizados. Contudo, muito depende da capacidade e da imaginação dos empresários para não ficarem parados e aproveitar as suas inegáveisqualidades para fazer diferente e encontrar novas formas e novas soluções que não nos deixem atrasar na competição global.

Henrique Neto
Empresário