- Escrito Por: Redação
- Sociedade
- 15 julho 2020
Cerca de uma centena de pessoas participaram via online no 2.º Encontro da Rede Local de Prevenção da Violência ao Longo do Ciclo de Vida da Marinha Grande, que decorreu a 26 de junho. Segundo a diretora do DIAP de Leiria, verificou-se um aumento das queixas por violência durante o período de confinamento
Organizado pela Rede Local de Prevenção da Violência da Marinha Grande para permitir a divulgação do trabalho que está a ser realizado nesta área, bem como a troca de experiências entre profissionais, o encontro foi subordinado ao tema da “Violência doméstica”.
Ana Margarida Simões, diretora do Departamento de Investigação e Ação Penal (DIAP) de Leiria, referiu que a violência doméstica é um dos crimes mais participados a nível nacional, explicando todos os meios desencadeados pelo Ministério Público desde que é feita uma denúncia. Questionada sobre se houve ou não um aumento das queixas durante oi período de confinamento, a responsável confirmou que entre janeiro e maio deste ano se verificou um ligeiro aumento dos inquéritos por violência doméstica por comparação com o período homólogo do ano passado, em especial durante o estado de emergência.
Segundo a colega Ana Quaresma, também procuradora no DIAP de Leiria, a maioria das participações dizia respeito a situações de teletrabalho em que o facto de as mulheres dialogarem com os colegas, homens, nomeadamente através das plataformas digitais, causava nos maridos e/ou companheiros ciúmes infundados. A procuradora lembrou que a violência doméstica é um crime público sendo dever de quem o presencie ou dele tenha conhecimento fazer a respetiva denúncia.
Ana Margarida Simões realçou a importância do trabalho em rede entre as diversas entidades que atuam nesta área, sobretudo quando as vítimas não querem falar sobre o que lhes aconteceu e muitas vezes desconhecem os trâmites legais.
Já o psicólogo João Carlos Mota deu a conhecer o modo de funcionamento do Gabinete de Apoio a Vítimas de Violência Doméstica do Município de Alcobaça, onde trabalha, considerando que deve apostar-se na prevenção e alerta desde tenra idade com atividades junto dos alunos do pré-escolar e 1.º ciclo.
O Comandante da Esquadra da PSP da Marinha Grande, Tiago Leal, abordou o “Contributo da PSP para a Prevenção da Violência”, dando conta do modelo de policiamento de proximidade e do trabalho das equipas de proximidade e de apoio à vítima. O responsável aproveitou para agradecer o empenho dos agentes de proximidade da esquadra marinhense, Gaspar, Margarida e Ana, realçando o trabalho da “Escola Segura” na prevenção da violência num meio “privilegiado” para a deteção e identificação de casos de risco. O comandante abordou ainda o papel de investigador do agente da PSP e da articulação com o Ministério Público neste âmbito.
Coube ao psicólogo Gustavo Duarte, assessor técnico do Gabinete de Apoio à Vítima de Santarém, falar sobre o “Perfil da Vítima”, considerando que o número de vítimas do sexo masculino tende a aumentar e que “cada caso é um caso”, defendendo, por isso, que os técnicos devem tentar perceber o que se passa para que a vítima permaneça numa situação em que é maltratada, sem julgamentos ou rótulos, apelando à mais-valia da cooperação interinstitucional.
O tema “Perfil do Agressor” foi apresentado pelo Primeiro Sargento Nelson Moreira, do Núcleo de Investigação e de Apoio a Vítimas Específicas (NIAVE) de Leiria, que explicou os procedimentos e modo de atuação do Núcleo. Segundo o orador, o agressor é geralmente um homem, casado, com idade entre os 25 e os 45 anjos, com baixa autoestima, que culpa e minimiza a vítima e que tenta infligir agressões e maus-tratos que não sejam percetíveis por terceiros. De acordo com Nelson Moreira “os números estão a crescer”, sendo que no Comando de Leiria e mesmo em estado de emergência se manteve o número médio de participações por violência doméstica.
A respeito do trabalho a realizar junto dos agressores, a procuradora Ana Simões considerou que “o meio prisional é o meio por excelência para tratar os agressores”, considerando que é “mal aproveitado”, e defendendo a criação de programas de apoio específicos para os agressores que não estão presos.