Rui Cardeira, em entrevista ao JMG, faz um balanço positivo dos 20 anos de atividade da Cardeira & Costa, imobiliária da Marinha Grande. O empresário mostra-se otimista quanto à evolução do negócio e antevê que 2021 seja o melhor ano de sempre para a empresa que lidera

 

Em tempos de pandemia, como se tem adaptado a Cardeira & Costa a esta nova realidade: vender casas em segurança?

Felizmente a nossa atividade não tem tido grandes restrições, comparando, por exemplo, com outras atividades como a restauração e o turismo. Tirando os dois confinamentos em que tivemos de ficar em casa, de facto agora conseguimos desenvolver a nossa atividade de uma forma quase normal. É certo que temos de garantir o uso da máscara, o uso do gel, o distanciamento social, não permitir muita gente no escritório, mas temos conseguido desenvolver a nossa atividade normalmente.

O digital é hoje uma “arma” importante na venda. Acredita que caminhamos para vendas e arrendamentos on-line ou o presencial nunca será substituído?

Acho que o online será mais um complemento e já o é. O negócio via online tem mudado um pouco, por conta da nova tecnologia que está sempre a surgir e a Century 21 até é pioneira na criação de uma aplicação que permite praticamente fazer todo o negócio e acompanhá-lo. Mas, na minha opinião, o digital será um complemento. Isto é um negócio de pessoas, para pessoas, é um negócio de relação e não há aplicação nenhuma que substitua a relação. É importante que as pessoas que queiram ter uma carreira nesta atividade estejam em constante formação para poderem acompanhar a evolução da tecnologia.

O primeiro semestre está cumprido. Já é possível fazer um balanço dos primeiros seis meses do ano?

É um balanço extremamente positivo, mesmo nesta época os números são muito animadores. Todos os indicadores nos dizem que vamos ter mais um ano de recordes e de grandes resultados. No primeiro semestre estamos a crescer significativamente em termos de faturação, em número de clientes compradores, em número de leads que conseguimos reter no digital, tudo nos indica que vamos ter um ano de grandes resultados e acredito bastante que a Cardeira & Costa vai continuar a crescer a sua cota de mercado, não só na Marinha Grande mas também no mercado de Leiria onde estamos a ter um crescimento surpreendente.

Como é possível obter estes resultados aqui na Marinha Grande quando a realidade nos mostra que há uma enorme escassez de produto?

Digo muitas vezes aos meus agentes que as nossas dificuldades são as dificuldades dos outros. Não é só na Marinha Grande que existe escassez de produto, é geral. Temos a sorte de estar numa rede nacional e temos a sorte de perceber o mercado nas várias zonas do país. De facto existe escassez de produto novo. Recordo-me há 20 e alguns anos quando comecei a trabalhar nesta área, e a Marinha Grande tinha uma característica, que curiosamente ainda mantém, que é vendia-se tudo em projeto. Qualquer projeto que existe com fundações, nós chegávamos lá e estava vendido. A agora está a acontecer exatamente o mesmo. As pessoas têm aqui algumas opções: ou compram novo e ficam à espera que se concretize, temos vários imóveis já vendidos em projeto, ou compram usado e fazem obras e remodelam as casas. Acredito que uma pessoa que precisa de casa não deixa de a comprar pelo facto de não haver aquela casa que procurava, há sempre uma adaptação. Temos uma fantástica equipa que sabe apresentar soluções aos clientes.

A pandemia, pelos dados que tem, alterou os hábitos de quem compra casa? Ou seja, o logradouro passou a ser ainda mais relevante ou um imóvel com terreno?

Sim, a pandemia veio trazer novos hábitos às pessoas, habituadas a estar mais em casa. De facto, nota-se não só aqui na Marinha Grande a tendência de as pessoas quererem ter um espaço exterior. Mas depois vem a realidade, que é aquilo que as pessoas querem e depois aquilo que podem. Se as pessoas pretendem uma moradia mas não têm capacidade se calhar temos de arranjar um apartamento com cave ou uma moradia para remodelar. De facto, a oferta é escassa e os preços estão elevados.

O que é que hoje mais se procura na Marinha Grande? Casas ou apartamentos? A “febre” das casas antigas ainda se mantém?

A procura a nível de habitação própria é 50/50. A tendência em primeiro lugar é as pessoas quererem uma moradia. Nos outros 50 por cento temos as pessoas que ou não dão importância ao espaço exterior, ou não têm capacidade de endividamento para a tal moradia que gostariam de ter, e então também há o tal mercado das casas antigas que está a funcionar em duas vertentes: o investidor, e aquela pessoa que não consegue comprar a moradia mais cara e então compra uma casa antiga que depois vai remodelando.

Os preços das casas aparentemente não desceram na Marinha Grande. Em sua opinião, os preços tendem a estabilizar ou prevê ainda um crescimento do preço por metro quadrado?

A minha perceção é que o mercado vai continuar a subir os preços. É a lei da oferta e da procura. É o mercado a funcionar. Há muito mais procura que oferta. O preço da construção também tem estado a subir, em preços de materiais e mão-de-obra.

A minha perspetiva, infelizmente para os compradores, é que não vejo uma luz ao fim do túnel para a estabilização dos preços nos próximos tempos.

Mas a Marinha Grande continua a ser, segundo o INE, uma das cidades mais baratas em termos do preço por metro quadrado do país.

E qual é a sua opinião em relação às moratórias?

Acredito que vai haver algumas famílias que não vão conseguir honrar o compromisso de pagar a prestação da casa. O desemprego aumentou, os salários não cresceram… Mas, se vier a acontecer não será no imediato. Mas vai levar algum tempo até se verificar o incumprimento e a banca ficar com o imóvel.

Também não prevejo que haja aqui muita oferta feita dessa forma. No curto/médio prazo não vejo que vá influenciar a oferta de imóveis.

Comprar para arrendar é ainda uma via com forte rentabilidade?

Sim e cada vez mais. Os investidores já perceberam que a nível de segurança/rentabilidade, o investimento no imobiliário para arrendamento é o mais seguro. Sabemos que a Banca não está a pagar juros de depósitos a prazo, a única coisa que os Bancos estão a oferecer são investimentos de risco. No imobiliário o risco é nulo, porque o imóvel está lá, está a valorizar e as pessoas confiam em nós, com taxas de rentabilidade de 6 a 7 por cento ao ano no arrendamento.

Têm existido algumas movimentações no mercado, designadamente novas agências e mudanças de consultores em algumas imobiliárias. Como olha para essa realidade? Há espaço para mais agências na Marinha Grande?

Eu olho para isto de uma forma muito calma, porque afinal tenho 23 anos de imobiliário e a Cardeira & Costa fez agora 20 anos e já assisti a muita coisa. Estamos a assistir a um momento muito forte, com muita procura e muito negócio. É perfeitamente natural que outras pessoas queiram investir no imobiliário para terem o seu próprio negócio.

No que diz respeito aos agentes que mudam de lojas é novamente o mercado a funcionar, porque os melhores são sempre cobiçados.

Lido serenamente com isso, sei que tenho grandes profissionais na minha empresa, que são frequentemente assediados por outras empresas, mas sei que tenho de lhes dar boas condições de trabalho, e com um staff fantástico que os apoia.

Gosto de concorrência saudável, porque isso faz-nos mais fortes.

Qual é o segredo do vosso sucesso?

Recordo-me, há 13 anos, quando assinámos com a Century 21 que era eu e uma funcionária. Primeiro, conhecer o modelo de negócio e depois aplica-lo. Uma das coisas em que sempre apostámos foi na formação. 80 por cento da nossa equipa é formada aqui. Temos um plano de formação e tentamos formar as pessoas. Tem isso este o nosso percurso. Felizmente temos encontrado boas pessoas que se têm formado no ramo imobiliário. Sem pessoas este negócio não existe e sinto-me muito grato pelas pessoas que tenho a trabalhar comigo.

A mediação imobiliária continuará a ser a vossa principal atividade ou poderá existir diversificação no vosso modelo de negócio, 20 anos depois de terem iniciado este percurso de sucesso?

No que concerne à Cardeira & Costa, o nosso core business é a mediação imobiliária, sendo certo que também temos um departamento e somos licenciados pelo Banco de Portugal como intermediários de crédito. Tenho um ex-bancário a trabalhar comigo na parte do desenvolvimento do crédito à habitação.

Queremos continuar a crescer no ramo imobiliário e desenvolver esta parte do crédito à habitação, que complementa o nosso negócio.

Nestes 20 anos, a empresa tem vindo a crescer de forma sustentada. Era aqui que queria chegar ou a Cardeira & Costa cresceu muito além do que imaginava há 20 anos atrás?

Muito mais! Há 20 anos se me dissessem que nós estávamos aqui hoje com esta dimensão eu dizia: “Tu és maluco!”. Como disse quando conheci o projeto da Century 21 e alguém me disse que era possível uma imobiliária faturar um milhão de euros…

Eu trabalhava numa outra empresa, a Réplica, que chegou a existir na Marinha Grande, eu era diretor comercial e o Luís Costa, que é indissociável deste projeto, era meu vendedor. Quando essa empresa me quis vender o escritório deles em Leiria, que era onde eu trabalhava, eu não aceitei e quis fundar a minha empresa, e o início da Cardeira & Costa é este. Convidei o Luís Costa para vir trabalhar comigo para montarmos a Cardeira & Costa e o que queríamos na altura era vender umas casas, e ir fazendo a nossa vida.

Depois houve uma evolução, fomos conhecendo outras realidades, outros projetos, e a partir do momento em que nós conhecemos como é trabalhar numa rede desta dimensão e conhecer o negócio da forma como nos era ensinado, em termos do know how da rede Century 21, claro que queremos crescer e cada vez crescer mais, e não estamos a falar em lucros. Claro que o lucro é importante e todos precisamos de dinheiro para viver, mas também é o sentir que ajudamos as pessoas a mudarem um bocado a vida delas. Temos pessoas que aprenderam aqui uma profissão e hoje têm uma vida organizada a trabalharem numa empresa que lhes dá conforto e segurança para a sua vida, e é isto que me alimenta, digamos assim, em continuar este percurso.

E depois há outra coisa que também me dá muito prazer, nós somos PME Excelência há 10 anos consecutivos. Há poucas imobiliárias no país que o são e isso é um estatuto que muito orgulho me dá. Mas isto só se consegue com pessoas, e sou muito grato porque tenho uma fantástica equipa, tanto de staff como de comerciais, a trabalhar comigo. Estas distinções não são minhas, são de todos.

 

Qual é a visão que tem para os próximos 20 anos?

O meu sonho, digamos assim, e as coisas estão a orientar-se nesse sentido, é que os meus filhos daqui a 20 anos estejam cá, e eu esteja também cá para ver, quem sabe com uma cadeia de lojas da Cardeira & Costa a nível nacional…

Para já, tem duas agências em Leiria e uma na Marinha Grande. Poderão existir novidades em breve noutros concelhos do distrito, ou fora do distrito?

É uma possibilidade. Não fecho a porta. Neste negócio, como noutros, temos de ter é os recursos humanos, ter alguém em quem delegar a abertura de uma loja num novo mercado e isso não é fácil arranjar. Se eu tivesse alguém em quem eu confiasse e com o know how suficiente para abrir outros mercados, era já amanhã, não havia dúvidas nenhumas.

Felizmente temos as lojas consolidadas e de facto estava na altura certa para caminharmos para outros mercados, mas temos de arranjar as pessoas certas e ter calma.