Já aqui escrevi várias vezes sobre a necessidade de haver um planeamento do futuro da economia da Marinha Grande. Como é evidente deve ser um plano meramente indicativo, que mantendo a liberdade de cada empresa em  seguir o seu próprio caminho, alertará os empresários, as forças políticas e a sociedade em geral dos obstáculos e das oportunidades que se colocarão na senda do sucesso empresarial e do progresso  económico que têm   caracterizado a região.

A Marinha Grande foi economicamente muito pobre desde a sua fundação, pobreza que podemos associar a ter  sido até aos anos quarenta do século passado um concelho mono-produtor, esgotando a sua actividade na indústria vidreira, com crises cíclicas sempre que os humores dos mercados ditavam a quebra da procura. A floresta ajudava um pouco a matar a fome, nomeadamente através da construção de estradas decididas pelo regime político de então, mas nada que alterasse as características de pobreza que em todo o mundo são associadas  à dependência de um único sector da economia.

Graças à inteligência inovadora de Anibal H. Abrantes e a uma geração de operários tornados empresários, a indústria de moldes transformou a economia do concelho, introduziu tecnologias em Portugal e através da iniciativa criadora de Toni Jongenelen encontrou o caminho dos mercados externos, para nunca mais deixar de ajudar o concelho a desenvolver-se e a economia a crescer. É isso que ainda hoje acontece, porque graças à competência empresarial existente, às constantes adaptações tecnológicas realizadas e à internacionalização da economia, o concelho beneficia de um notável nível de vida e mesmo de alguns sinais exteriores de riqueza, o que acontece frequentemente em situações económicas semelhantes.

 Presentemente, existem muitas oportunidades visíveis no futuro da indústria de moldes, mas também alguns obstáculos de monta, razões pelas quais o debate que proponho deva ser realizado,  afim dele se retirarem os ensinamentos necessários, que sendo já conhecidos de alguns poderão não estarem a ser avaliados por muitos. Por exemplo, a produção de moldes para quase todos os clientes de sectores industriais diferenciados desapareceu e, com grande coragem e determinação, praticamente todas as empresas de moldes adaptaram a sua produção ao mercado quase único do automóvel. Sendo que esse mercado tem felizmente crescido graças ao aumento  do número de modelos produzidos e, por força da sua complexidade, tem crescido à margem da concorrência chinesa. Todavia será um erro pensar que a situação actual se manterá para sempre, sendo pois útil que a economia marinhense racionalize hoje os perigos do futuro e as alternativas que tem à sua disposição, enquanto existem as energias, os capitais e os saberes suficientes para continuar a senda de progresso alcançado até aqui.

Algumas empresas de moldes já iniciaram um processo de diversificação, tornando-as menos dependentes  da produção de moldes e enveredando por  sectores afins como a injecção de plásticos e de ligas metálicas, componentes para automóveis e a produção dos mais variados produtos, com maior ou menor grau de inovação. Poderão ser estes ou outros os caminhos a percorrer, sendo que tenho como certo que o futuro passa pela ligação das empresas aos centros de ciência e de investigação existentes ou a criar, pela internacionalização, nomeadamente com mercados e parceiros exigentes e inovadores, bem como pela adaptação e inovação tecnológicas. Aquilo a que alguns chamam a Indústria 4.0, que no caso da Marinha Grande representa a integração digital do design, da engenharia,  da prototipagem, da produção de ferramentas e a inovação de produtos valorizáveis, se possível entregues um a um aos consumidores mais exigentes. No fundo, não é muito mais do que a história que escrevi  há vinte anos para convencer os deputados europeus de que as indústrias portuguesas do calçado e da confecção teriam futuro e deveriam ser apoiadas.

Com estas ou outras soluções o importante é que os empresários marinhenses, o movimento associativo, a autarquia e demais forças vivas do concelho não considerem o futuro como adquirido e continuem com inteligência e trabalho a construir esse futuro.