O fórum “Alimentação, Ciência e Sustentabilidade” realizado no âmbito do aniversário do Agrupamento de Escolas Marinha Grande Nascente, levou ao Teatro Stephens, no passado dia 29 de março, diversos assuntos relacionados com a saúde

 

Com apresentações elaboradas por alunos do 12.º ano de Biologia da Escola Secundária Pinhal do Rei, e intervenções de Professores, Doutores, Nutricionistas e Investigadores, o evento colocou em evidência assuntos como a fome, a nanotecnologia na melhoria dos cosméticos, a utilização de transgénicos e a importância das algas, fornecendo ainda dicas sobre alimentação saudável e bem-estar visando a longevidade.

Na sessão de abertura, o diretor do Agrupamento, Nuno Cruz, apelou aos alunos para que aproveitassem a experiência, considerando que os temas em análise encheriam a sala “de riqueza e aprendizagem”. Já a vereadora Ana Alves Monteiro, que acompanhou os trabalhos decorridos durante a tarde, parabenizou o Agrupamento pela organização e pelo desenvolvimento de projetos abertos à comunidade, e referiu a importância desta ação pois acaba por conectar o mundo da ciência com o da educação e aproximar alunos e professores.

Saber ler corretamente os rótulos das embalagens alimentares, distinguir informação fidedigna disponível na Internet relacionada com nutrição e dietas, e tomar consciência de que uma alimentação equilibrada pode acrescentar anos à vida, foram alguns dos aspetos abordados pelos diferentes oradores.

Sabe ler os rótulos dos produtos?

O evento teve início com a apresentação dos alunos Dinis Pereira, Isaac Anjos e Tiago Marques sobre a importância de saber ler os rótulos das embalagens dos alimentos e como os descodificar. Também fizeram menção ao problema da obesidade e à importância de combinar o desporto a uma boa alimentação. O grupo finalizou reforçando a mensagem “comecem a ler rótulos, pois é importante para a nossa segurança”.

Já os alunos Beatriz Silva, Beatriz Simões, Henrique Agostinho, Maria Caetano e Mariana Elói trouxeram um tema mais voltado à estética onde relacionaram os cosméticos, o meio-ambiente e os animais, abordando os cosméticos naturais e orgânicos. Referiram que a Europa obtém 77% do mercado de cosméticos do mundo, tomando assim o primeiro lugar. A China fica na frente como o país onde se realizam mais testes com animais, por outro lado, a União Europeia foi o primeiro grupo mundial de países a proibir o uso de animais em testes de cosméticos.

Cosmética e alimentação saudável

A professora da Faculdade de Farmácia da Universidade de Coimbra Ana Cláudia trouxe um tópico inovador sobre o desenvolvimento da nanotecnologia aplicada às formulações cosméticas que visam melhorar a eficácia dos produtos. Também esclareceu que o termo “cosmética sustentável” só se verifica se associarmos a vida do produto ao nosso comportamento em relação a ele, desde o facto de os deixamos estragar antes de os utilizar por completo, ao modo como descartamos as embalagens, e todo o percurso de fabricação, referindo a pegada ecológica relacionada à compra, venda e utilização do produto. Por fim, apelou aos jovens para que utilizem mais protetor solar, atendendo ao aumento de cancro de pele na população jovem.

A nutricionista Alexandra Figueiredo falou sobre alimentação, ensinando como diferenciar informação confiável e não confiável na internet e explicou a diferença entre dieta e restrição. A nutricionista mencionou o termo “terrorismo alimentar” para falar sobre o facto de muitas pessoas lidarem com a alimentação de forma extrema, como se fosse possível dizer que um alimento “ou é bom, ou é mau”. A especialista alertou para os transtornos alimentares e para as mentiras que podem estar presentes na internet e, por fim, deixou algumas dicas sobre o que fazer para ter uma alimentação mais saudável: apostar numa dieta equilibrada, ingerir no máximo 50gr de açúcar e menos de 5gr de sal por dia, e comer 5 porções de fruta por dia. Além disso, aconselhou a reduzir o consumo animal e optar por fontes de proteína vegetal, incluir frutas, optando sempre por frutas da época.

Alguns tipos de dietas

A sessão da tarde arrancou com o tema “Estilos de Alimentação e sua importância” elaborado e realizado pelos alunos Ana Oliveira, Diana Rodrigues e Samuel Amorim, que apresentaram alguns tipos de dietas, como a dieta mediterrânea tradicional, dieta mediterrânea verde, dieta macrobiótica, dieta vegetariana (e suas variedades), e dieta vegan, apontando benefícios, riscos, objetivos e princípios de cada uma delas, deixando claro que para iniciar qualquer dieta é necessário a indicação de um profissional de saúde.

Já a coordenadora da Licenciatura em Dietética e Nutrição no Politécnico de Leiria, Cátia Pontes, aconselhou a nunca beber álcool, mesmo que esteja presente na dieta mediterrânea. Também deixou claro que não faz sentido iniciar uma dieta vegetariana ou vegana, mas comer fast food veggie/vegan (aumentando a pegada ecológica) e comer fritos e alimentos processados. Sublinhou que adotar estas dietas nem sempre é sinónimo de ser saudável e recomendou o uso da criatividade para criar pratos diferentes utilizando sobras para evitar o desperdício. Cátia Pontes afirmou que a alimentação do pai é tão importante para a saúde do bebé durante o período pré-concecional quanto a da mãe e deixou algumas dicas para alcançar a longevidade: adotar uma dieta pouco calórica, comer carne, peixe e ovos em apenas uma refeição diária, enfatizou a importância do consumo do azeite e salientou que a longevidade está associada à dieta mediterrânea, à prática de atividade física diária e a ter uma vida espiritual e social saudável.

O papel dos fungos na alimentação

O grupo formado por Anna Silva, Letícia Coelho, Maria Alves e Simão Henriques falou sobre a fome e a questão da distribuição de comida no mundo, alertando que 9 milhões de pessoas morrem de fome por ano, sendo a China o país onde há mais desperdício de bens alimentares no mundo, seguida da Índia e dos Estados Unidos da América. Também referiram os Organismos Geneticamente Modificados (OMGs) ou “Transgénicos”, cujo genoma é modificado em laboratório para mudar características fisiológicas dos alimentos, como a cor e o tamanho. A segurança dos OMGs é desconhecida, mas mesmo assim eles estão presentes maioritariamente em alimentos embalados e processados, mas também podem estar ‘infiltrados’ em vitaminas, aromatizantes, produtos de levedura, adoçantes, proteínas, óleos, gordura, entre outros. Os alunos apresentaram dados sobre a água, apontando entre as causas mais comuns para a crise hídrica atual o desperdício de água, a diminuição do nível de chuvas, o aumento do consumo de água devido ao crescimento populacional, e a indústria agrícola. Por fim, concluíram que não há falta de alimentos, mas sim má gestão, da mesma forma que não existem países sem água potável, mas sim falta de acesso devido aos transportes, infraestruturas e gestão precárias.

As alunas Matilde Sousa e Nádia Francisco falaram sobre Micologia, nomeadamente sobre a utilidade dos fungos, que estão presentes na alimentação, designadamente na vinicultura, na panificação e na produção de queijo. Além disso, também têm utilidade no enriquecimento proteico de alimentos ricos em amido e são úteis na melhoria do valor nutritivo de subprodutos industriais. Já na indústria farmacêutica, os fungos são importantes na produção de antibióticos e outros medicamentos.

O evento terminou com a apresentação de Leonel Pereira, investigador e professor na Faculdade de Ciências e Nutrição da Universidade de Coimbra, que salientou o papel das algas para o planeta na redução do CO2, produção de oxigénio, produção de medicamentos, nos campos agrícolas como biofertilizantes, além de serem uma fonte alta de nutrição. Disse ainda que as algas podem ser usadas na alimentação dos animais na pecuária, para trazer mais vitaminas B12 e iodo para os consumidores através do leite e dos ovos desses animais. Para quem tem curiosidade em adicionar algas na alimentação, o professor aconselha as algas Kombu e Wakame, que podem ser encontradas nos mercados em Portugal.